EXTRAÇÃO DA CAPSAICINA



Elaborado em 22/12/2017 às 20:30
Publicado em 28/12/2017 às 20:28
Atualizado em 28/03/2020 às 23:59

Neste artigo eu vou abordar o processo de extração de uma substância muito fácil de ser encontrada, a Capsaicina, uma substância presente na parte carnosa e nas sementes daquelas pimentas ardidas.

Antes de partimos para o procedimento, vou falar um pouco sobre a capsaicina e pimentas.

A capsaicina é um alcalóide existente nas pimentas chili, que são plantas do gênero Capsicum. Possui fórmula Molecular C18H27NO3, com ponto de fusão de 66°C, praticamente insolúvel em água fria e solúvel em metanol, etanol, clorofórmio, éter etílico e acetona.

Figura 1: Molécula de capsaicina

É uma substância extremamente irritante para os mamíferos, incluindo o ser humano, provocando uma sensação de queimação ao entrar em contato com a pele e mucosas, mas proporciona um efeito analgésico para as aves. Com isso, pode-se concluir que o processo evolutivo destes vegetais quis os mamíferos herbívoros longe de seus frutos, mas quis que os pássaros os consumissem. Isso acontece porque as sementes, após passarem pelo aparelho digestivo dos mamíferos, não consegue germinar (torna-se estéril), isso já não acontece no aparelho digestivo das aves, permitindo que as sementes sejam levadas para locais distantes e germinem após eliminadas pelas fezes.

Em grandes quantidades, a capsaicina é considerada tóxica, seu efeito irritante é tão eficiente que ela é utilizada na fabricação dos famosos sprays de pimenta.

Figura 2: Rótulo de spray de pimenta destinado para repelir ataque de ursos

Os efeitos benéficos da capsaicina incluem proporcionar efeito analgésico, combater diversos tipos de câncer matando as células cancerígenas, e também pode ser utilizado no controle de pragas (mamíferos) pois não é tão perigoso quanto os venenos usados para este fim.

Para medir o nível de ardência das pimentas e proporcionalmente o nível de capsaicina dela, foi criada, em 1912, a escala de Scoville, pelo farmacêutico americando, Wilbur Scoville, que possui como unidade de medida o SHU (Scoville Heat Units) em Português: Unidades de Calor Scoville, que é representada em múltiplos de 100.

Figura 3: Wilbur Scoville

O procedimento é realizado produzindo um extrato da pimenta a ser medida (registrando a quantidade de amostras), em seguida este extrato é misturado com água e açúcar até que o nível de ardência fique imperceptível. Após isso são feitos os cálculos que determinam o nível de capsaicina que está presente na pimenta.

Este é um método extremamente impreciso pois depende do nível de tolerância da cobaia à capsaicina, por exemplo, se uma pessoa tem o hábito de consumir muita pimenta, terá tolerância maior à capsaicina e logo, precisará de quantidades maiores para ter a sensação de queimação, o que não vai acontecer com uma pessoa que não tem o hábito de consumir pimenta. Isso poderá ocorrer mesmo após um período de abstinência de consumo de pimenta.

Outro fator de imprecisão é a quantidade de sensores de calor na boca das cobaias, que varia de pessoa para pessoa, o que faz cada um ter a seu próprio e talvez único senso de queimação.

Na escala Scoville a capsaicina encontra-se no nível de 15 a 16.000.000 SHU, cima dela está apenas a Tinatoxina, como 5300.000.000 SHU e a Resiniferatoxina, com 16.000.000.000 SHU.

ADVERTÊNCIA:

A capsaicina é uma substância extremamente irritante, seu contato com a pele, mucosas ou olhos irá causar extrema sensação de queimação, que poderá durar horas, até dias.

A manipulação das pimentas e o contato com todo o material utilizado foi feito sempre com luvas. O uso de luvas é indispensável, pois o simples contato com apenas UMA pimenta utilizada pode causar um longo período de irritação na pele e, posteriormente, em qualquer parte do corpo onde tocar.

Para a produção de medicamentos derivados da capsaicina, são utilizadas técnicas diferentes das que são mostradas aqui. Estas técnicas são dominadas apenas por especialistas da área. O produto obtido neste experimento nunca deverá ser utilizado como medicamento, nem para a produção de medicamentos.

Não tente repetir este experimento sem o devido conhecimento e experiência com o material, nunca faça este experimento em casa, aqui está sendo feito em um laboratório preparado para esta finalidade.

Este artigo, bem como o vídeo no Youtube, tem caráter exclusivamente educativo, não me responsabilizo pelo mau uso do conhecimento mostrado aqui, sendo que a responsabilidade pelo mau uso recairá exclusivamente sobre seus autores.

Também não me responsabilizo por qualquer dano físico ou material que você venha a sofrer tentando repetir este experimento.

Após os avisos... Vamos ao Experimento

Materiais:

- 1 Extrator soxhlet completo;
- 1 Manta aquecedora;
- 1 Béquer;
- 1 Condensador;
- 300ml de Etanol Anidro;
- Algodão;
- Pimentas Bhut Jolokia;
- Pimentas Carolina Reaper;
- Luvas vinil ou borracha;
- 1 Forma de vidro Pyrex para aquecimento no Forno;
- Mangueiras para o condensador;
- Garras com Mufa;
- Suporte Universal.

Procedimentos:

1° - Primeiramente eu separei as pimentas Bhut Jolokia e Carolina Reaper;

2° - Utilizando LUVAS, eu as cortei ao meio e coloquei espalhadas na fôrma de vidro, em seguida as levei para desidratação, aquecendo no forno. É extremamente importante que este forno esteja em um local bem ventilado ou na parte de fora do laboratório, deve-se ter MUITO CUIDADO AO ABRIR O FORNO para fazer as verificações ou a retirada das pimentas do aquecimento, pois o vapor gerado por estas pimentas é bastante irritante, use óculos e máscara e deve-se abrir apenas quando a área estiver muito bem ventilada. A desidratação deve ser feita em temperatura baixa até que as pimentas sequem completamente, é normal que as pimentas fiquem com a aparência de queimadas, mas é neste ponto que precisamos que ela chegue para fazer a moagem, se não chegar neste ponto as partes que ainda estão moles não serão bem trituradas;

3° - Após elas secarem bem, coloquei num pilão de plástico e as triturei bem até que virem pó;

4° - Após isso montei o aparelho de extração soxhlet e coloquei os 300ml de etanol no balão de aquecimento, coloquei o algodão, o pó que obtive na moagem da pimenta, e a última camada de algodão;

5° - Como pode ser visto no vídeo, cometi um erro, coloquei muito algodão no dreno do extrator, isso fez com que o refluxo não ficasse muito bom;

6° - Liguei o sistema de aquecimento e deixei o sistema funcionando por 6 horas;

7° - Quando verifiquei que o etanol estava subindo no dreno com uma cor amarela bem clara, decidi que era a hora de encerrar esta fase;

8° - Para recuperar o Etanol utilizado, montei um sistema de destilação simples, no qual eu recuperei 150ml de etanol;

9° - Após isso, peguei o extrato da pimenta que resultou depois da separação do etanol e coloquei em um béquer, levei par ao aquecimento até decidir que praticamente todo o etanol vaporizou restando apenas o "óleo" das pimentas (quando ficou apenas um líquido bem raso no béquer com textura oleosa), rico em capsaicina.

10° - Transferi este "óleo" ainda quente para o frasco de armazenamento, precisei de uma espátula para raspar o pouco que ficou preso ao béquer, conforme a temperatura foi diminuindo, ele foi ficando mais sólido até ficar com um consistência pastosa, similar à manteiga.

11° - Pois bem, este é o aspecto do extrato rico em capsaicina.

Veja o vídeo do Experimento no Youtube:


FUTURAMENTE:
Eu estarei atualizando esta publicação com os resultados dos experimentos, nos quais eu estarei utilizando outros métodos de extração.

BIBLIOGRAFIA:

https://en.wikipedia.org/wiki/Capsaicin em 19/12/17 às 21:00
https://eventos.set.edu.br/index.php/sempesq/article/view/631 em 19/12/17 às 22:30
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/139064/000987636.pdf?sequence=1 em 19/12/17 às 23:40
https://quimicadealimentos.files.wordpress.com/2009/08/capsaicina.pdf em 20/12/17 às 01:10
http://www.unicamp.br/unicamp/ju/534/metodo-quantifica-alcaloides-que-dao-picancia-pimentas em 21/12/17 às 22:00
https://cepein.femanet.com.br/BDigital/arqTccs/0811290529.pdf em 22/12/17 às 00:30
http://extratusvida.com.br/wp-content/uploads/2013/01/Capsaicina.pdf em 22/12/17 às 20:00